TANATOPOLÍTICA E NEOFASCISMO NO BRASIL: ATUALIZAÇÃO DA LÓGICA MANICOMIAL NO CARIRI CEARENSE

  • Leda Mendes Gimbo Universidade Federal de Goiás
  • Magda Diniz Bezerra Dimenstein Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN
Palavras-chave: Reforma psiquiátrica; desinstitucionalização; tanatopolítica; RAPS; comunidade terapêutica.

Resumo

RESUMO: A Casa de Saúde Santa Teresa - hospital psiquiátrico inaugurado no Cariri cearense na década de 1970 - se manteve em funcionamento até 2016, a despeito dos avanços da Reforma Psiquiátrica no país. Trata-se de uma instituição privada, que funcionava com recursos públicos e faz parte de um período da história da psiquiatria brasileira que gerou muitos lucros aos
empresários da loucura, atendendo aos ideais higienistas. A fragilidade da Rede de Atenção Psicossocial/RAPS na região e o fato de que atendia às demandas de inúmeros municípios dos estados do Ceará, Piauí e Pernambuco foram os argumentos utilizados para que o hospital permanecesse ativo por tantas décadas. Tomando o fechamento da Casa de Saúde Santa Teresa como acontecimento, esse trabalho de caráter cartográfico, pretende analisar os desdobramentos do fechamento desse manicômio na região, destacando a atualização da lógica manicomial e de seus dispositivos, a exemplo da multiplicação de Comunidades Terapêuticas observada nesses territórios, a falta de ampliação da RAPS e de estratégias efetivas de desinstitucionalização e de acompanhamento de longa permanência em Saúde Mental. Objetiva-se articular esse fenômeno ao contexto político do país, à desconstrução das políticas de direitos, do SUS e da Política Nacional de Saúde Mental, agravada pela crise sanitária, social
e econômica causada pela pandemia da Covid-19. Por fim, pretende-se apontar, nesse cenário de guerra, possibilidades de resistência e insurgência a partir das políticas do comum.

Biografia do Autor

Leda Mendes Gimbo, Universidade Federal de Goiás

Docente em Psicologia na Universidade Federal de Goiás - FE. Possui licenciatura e bacharelado em Psicologia, pela Universidade Federal da Paraíba. Mestre e Doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Psicóloga clínica especialista em Neuropsicologia pela Unichristus. Formação plena e pós-formação em Gestalt-Terapia. Experiência de trabalho na Rede de Atenção Psicossocial: CAPS (Psicóloga) e Casa de Saúde Santa Teresa (Psicóloga e coordenadora), no município de Crato e docência do ensino superior nos cursos em graduação e pós-graduação em Psicologia.

Magda Diniz Bezerra Dimenstein, Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN

Professora Titular vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFRN. Graduada em Psicologia pela UFPE (1986), Mestre em Psicologia Clínica pela PUC/RJ (1994) e Doutora em Saúde Mental pelo Instituto de Psiquiatria da UFRJ (1998). Realizou estágio Pós-Doutoral em Saúde Mental na Universidad Alcalá de Henares (Espanha, 2010) e em Saúde Coletiva no Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da UFC (2018). Atua na área de Saúde Coletiva com ênfase em Saúde Mental, Atenção Primária e Psicossocial. Participa do grupo de pesquisa Modos de subjetivação, Políticas Públicas e Contextos de Vulnerabilidades/UFRN (diretório de GP/CNPq) e do GT/ANPEPP Políticas de subjetivação e invenção do cotidiano. Bolsista PQ1-A/CNPq.

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Publicado
2023-06-07
Como Citar
Leda Mendes Gimbo, & Magda Diniz Bezerra Dimenstein. (2023). TANATOPOLÍTICA E NEOFASCISMO NO BRASIL: ATUALIZAÇÃO DA LÓGICA MANICOMIAL NO CARIRI CEARENSE. ARARIPE — REVISTA DE FILOSOFIA - , 3(02), 115 - 133. https://doi.org/10.56837/Araripe.2022.v3.n02.1093