A ESCRITA DA HISTÓRIA E A PRODUÇÃO DE MEMÓRIAS NA FORMAÇÃO DOS RESTOS DA DITADURA E DO AUTORITARISMO CONTEMPORÂNEO BRASILEIRO
Resumen
Neste artigo, no intuito de nos inscrevermos em uma reflexão mais abrangente acerca dos negacionismos contemporâneos, com foco no “negacionismo histórico”, que se sustenta por processos de falseamento e homogeneização da história e das memórias, buscamos seguir o seguinte roteiro de reflexão analítica: i) tratar da escrita da história, abordando a produção de memórias, as políticas de esquecimento e o falseamento discursivo da história; ii) traçar um panorama acerca da escrita da história e da produção de memórias da ditadura civil-militar brasileira, observando, de um lado, a produção discursiva nos campos escolar, jornalístico e “de história”, como formas de manifestação e promoção da memória oficial do regime, e, de outro, a construção das políticas institucionais de memória, com foco nas comissões de verdade, como mecanismos de instituição de regimes de dizibilidade sustentados por memórias-outras; iii) como eixo analítico-conclusivo, traçar uma reflexão que vai da negação da história à formação do autoritarismo contemporâneo, tomando como exemplo a violência contra os povos originários. Inscrevemo-nos, para dar cabo a esta discussão, na perspectiva arqueogenealógica dos Estudos Discursivos Foucaultianos, a partir da mobilização de um arcabouço teórico-metodológico que permite a análise dos processos de formação dos enunciados e dos discursos e, fundamentalmente, uma crítica reflexiva do presente.
Citas
2014.
BRASIL. Ministério da Saúde. Relatório missão Yanomami. Brasília, 2023. Disponível:
https://www.gov.br/saude/ptbr/assuntos/noticias/2023/fevereiro/arquivos/RelatorioYanomamiversao_FINAL_07_02.pdf.
Acesso em: 6 fev. 2023.
CERTEAU, Michel de. A operação historiográfica. In: A escrita da história. Tradução Maria
de Lourdes Menezes. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982, p. 56-107.
DELEUZE, Gilles. Aula 2. In: Michel Foucault: as formações históricas. Tradução Cláudio
Medeiros e Mario A. Marino. São Paulo: n-1 edições e editora filosófica Politeia, 2017a, p. 5-
38.
DELEUZE, Gilles. Aula 5. In: Michel Foucault: as formações históricas. Tradução Cláudio
Medeiros e Mario A. Marino. São Paulo: n-1 edições e editora filosófica Politeia, 2017b, p. 5-
50.
DELEUZE, Gilles. Aula 8. In: Michel Foucault: as formações históricas. Tradução Cláudio
Medeiros e Mario A. Marino. São Paulo: n-1 edições e editora filosófica Politeia, 2017c, p. 5-
37.
FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Tradução Luiz Felipe Baeta Neves. 7 ed. Rio
de Janeiro: Forense Universitária, 2007.
FOUCAULT, Michel. Resposta a uma questão. In: MOTTA, Manoel de Barros da. Repensar
a política – Michel Foucault. Ditos & Escritos VI. Tradução Ana Lúcia Paranhos Pessoa. Rio
de Janeiro: Forense Universitária, 2010, p. 1-24.
FOUCAULT, M. Sobre a arqueologia das ciências. Resposta ao Círculo de Epistemologia. In.
Arqueologia das ciências e história dos sistemas de pensamento (Ditos & Escritos II).
Organização e seleção de textos Manoel Barros da Motta; tradução Elisa Monteiro. 3 ed. Rio
de Janeiro: Forense Universitária, 2013, p. 85-123. GAGNEBIN, Jeanne Marie. O preço de uma reconciliação extorquida. In: TELES, Edson;
SAFATLE, Vladimir. O que resta da ditadura: a exceção brasileira. São Paulo: Boitempo,
2010, p. 177-186.
GASPARI, Elio. A ditadura envergonhada. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
GUILHERME, Cassio Augusto. A Comissão Nacional da Verdade e as Crises com os
Militares no Governo Dilma Rousseff (2011). Revista Eletrônica História Em Reflexão, v. 15,
n. 29, p. 45-62, 2021. Acesso em: 2 fev. 2023. DOI:
https://doi.org/10.30612/rehr.v15i29.10892
INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL. Yanomami sob ataque: garimpo ilegal na terra indígena
yanomami e propostas para combatê-lo. Boa Vista: Hutukara Associação Yanomami;
Associação Wanasseduume Ye’kwana, 2022. Disponível em:
https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/yanomami-sob-ataque-garimpo-ilegalna-terra-indigena-yanomami-e-propostas-para. Acesso em: 6 fev. 2023.
LUZ, Danielle Rodrigues Silveira Teles. Memórias sobre a Ditadura Militar nos Livros
Didáticos de História. 2016. 128f. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade do
Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Formação de Professores, Rio de Janeiro, 2016.
Disponível em: https://www.bdtd.uerj.br:8443/handle/1/13551#preview-link0. Acesso em: 13
jan. 2023.
MINAS GERAIS. Comissão da Verdade em Minas Gerais. Relatório. Governo do Estado.
Belo Horizonte: COVEMG, 2017.
NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Proj. História, São
Paulo, v. 10, p. 7-28.
ORLANDI, Eni Pulcinelli. A fala de muitos gumes: as formas de silêncio. In: ORLANDI, E.
P. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. 2.ed. Campinas, SP: Pontes,
1987, p. 263-276.
RIO DE JANEIRO. Comissão da Verdade do Estado do Rio de Janeiro. Relatório. Rio de
Janeiro: CEV-Rio, 2015.
ROCHA, Aristeu Castilhos da. O regime militar nos livros didáticos de História do Ensino
Médio: a construção de uma memória. 2008. 382f. Tese (Doutorado em História) – Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-Graduação em História, Porto
Alegre, 2008. Disponível em: https://repositorio.pucrs.br/dspace/handle/10923/3911. Acesso
em: 13 jan. 2023. SÁ, Israel de. Da repressão à abertura política: processos de espetacularização do discurso
político. 2011. 215 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Universidade Federal de São
Carlos, Programa de Pós-Graduação em Linguística, São Carlos, 2011.
SÁ, Israel de. 'Golpe midiático': processos de formação do enunciado entre os golpes de 1964
e 2016. In: NORONHA, Gilberto Cézar de; LIMA, Idalice Ribeiro da Silva; NASCIMENTO,
Mara Regina do (Org.). O golpe de 2016 e a corrosão da democracia no Brasil. Jundiaí, SP:
Paco Editorial, 2020, p. 117-137.
SAFATLE, Vladimir. Apresentação. A memória como experiência política. In: TELES, E.
Democracia e Estado de Exceção: transição e memória política no Brasil e na África do Sul.
São Paulo: Fap-Unifesp, 2015, p. 13-15.
SÃO PAULO. Comissão da Verdade do Estado de São Paulo Rubens Paiva. Relatório Final.
São Paulo, 2015.
SIMÕES, Renata Duarte; RAMOS, Vinícius da Silva; RAMOS, Diego da Silva. O livro
didático e a ditadura militar no Brasil. Poiésis, Unisil, Tubarão, v. 12, n. 21, p. 251-266, jan.-
jun. 2018. Disponível em:
file:///C:/Users/Usu%C3%A1rio/Downloads/admin,+FC_1_O+LIVRO+DID%C3%81TICO+
E+A+DITADURA+MILITAR+NO+BRASIL.pdf. Acesso em: 13 jan. 2023. DOI:
http://dx.doi.org/10.19177/prppge.v12e212018251-266
TELES, Edson; SAFATLE, Vladimir (Orgs.). O que resta da ditadura: a exceção brasileira.
São Paulo: Boitempo, 2010.
VALENTE, Rubens. Os fuzis e as flechas: história de sangue e resistência indígena na
ditadura. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.
UBERLÂNDIA. Comissão da Verdade do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. Relatório II.
A face civil da ditadura: o protagonismo das elites e sua dominação socioeconômica.
Uberlândia: EDUFU, Comissão Nacional da Verdade, 2017.
1 Ao submeter trabalhos à revista ARARIPE, caso este seja aprovado, o autor autoriza sua publicação sem quaisquer ônus para a revista ou para seus editores.
2 Os direitos autorais dos artigos publicados na ARARIPE são do autor, com direitos de primeira publicação reservados para este periódico.
3 Fica resguardado ao autor o direito de republicar seu trabalho, do modo como lhe aprouver (em sites, blogs, repositórios, ou na forma de capítulos de livros), desde que em data posterior fazendo a referência à revista ARARIPE como publicação original.
4 A revista se reserva o direito de efetuar, nos originais, alterações de ordem normativa, ortográfica e gramatical, com vistas a manter o padrão culto da língua, respeitando, porém, o estilo dos autores.
5 Os originais não serão devolvidos aos autores.
6 As opiniões emitidas pelos autores são de sua inteira e exclusiva responsabilidade.
7 Ao submeterem seus trabalhos à ARARIPE os autores certificam que os mesmos são de autoria própria e inéditos, ou seja, não publicados anteriormente em qualquer meio digital ou impresso.
8 A revista ARARIPE adota a Política de Acesso Livre para os trabalhos publicados sendo sua publicação de acesso livre, pública e gratuita. Portanto, os autores ao submeterem seus trabalhos concordam que os mesmos são de uso gratuito sob a licença Creative Commons - Atribuição Não-comercial 4.0 Internacional.
9 O trabalho submetido poderá passar por algum software em busca de possíveis plágios para averiguar a autenticidade do material e, assim, assegurar a credibilidade das publicações da ARARIPE e do próprio autor diante da comunidade filosófica do país e do exterior.
10 Mas, apesar disto, após aprovação e publicação do artigo, for constatando qualquer ilegalidade, fraude, ou outra atitude que coloque em dúvida a lisura da publicação, em especial a prática de plágio, o trabalho estará automaticamente rejeitado.
11 Caso o trabalho já tenha sido publicado, será imediatamente retirado da base da revista ARARIPE, sendo proibida sua posterior citação vinculada a ela e, no número seguinte em que ocorreu a publicação, será comunicado o cancelamento da referida publicação. Em caso de deflagração do procedimento para a retratação do trabalho, os autores serão previamente informados, sendo-lhes garantidos o direito à ampla defesa.
12 Os dados pessoais fornecidos pelos autores serão utilizados exclusivamente para os serviços prestados por essa publicação, não sendo disponibilizados para outras finalidades ou a terceiros.