A filosofia de Lélia Gonzalez e a fundamentação do feminismo negro brasileiro
Resumo
Este artigo explora a filosofia de Lélia Gonzalez e sua relação com o Feminismo Negro brasileiro, destacando sua importância ao interpretar e promover a luta ancestral das mulheres negras. Gonzalez trouxe à tona, no cenário acadêmico, político e social, as demandas e resistências das mulheres negras. A partir disso, buscamos fazer uma articulação dos conceitos "Interseccionalidade", "Amefricanidade" e "Pretuguês", destacando como figuras históricas brasileiras, como Dandara dos Palmares, Maria Firmina dos Reis e Carolina Maria de Jesus, desempenharam papeis cruciais, desafiando normas sociais e contribuindo para a formação cultural afro-brasileira. Fazemos uma análise das vivências dessas mulheres, demonstrando como o Feminismo Negro se desenvolveu a partir de uma ancestralidade comunitária visando o bem viver, não apenas das mulheres negras, mas também de toda sociedade. Através deste artigo, buscamos enfatizar a importância de reconhecer e valorizar a herança filosófica, histórica e cultural das mulheres negras, destacando que o Feminismo Negro é uma construção coletiva, fundamentada na resistência, inteligibilidade e liderança de mulheres negras ao longo do tempo. A metodologia empregada inclui uma análise detalhada das obras de Gonzalez, destacando as interações complexas entre gênero, raça e classe. Em síntese, este artigo oferece uma reflexão sobre o legado de Gonzalez, enfatizando sua capacidade de combinar teoria e prática para desafiar e transformar as bases epistemológicas e sociais que sustentam a opressão racial e de gênero. Essa análise não apenas resgata a importância de suas contribuições intelectuais, mas também propõe uma reavaliação necessária das narrativas históricas e filosóficas que moldam a identidade nacional brasileira.
Referências
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